11/04/2011

Que diferença o IOF faz?


Nessas últimas semanas estamos observando algumas medidas fiscais mais austeras do governo para segurar a inflação, que vem numa crescente, se enquadrando num cenário que há muito não víamos. Mas numa visão menos holística, onde está o centro do problema? Será que o aumento no consumo por parte das famílias é o problema todo e ponto final? Nós, do economia sem mito acreditamos que tudo na economia, assim com nas ciências humanas em geral não é explicado por apenas uma razão. Um exemplo disso, o fluxo cambial a que somos submetidos, é causado por no mínimo 2 problemas...1º: O dólar está mais barato, não só aqui, mas no mundo todo e 2º: O juro real brasileiro é quase o triplo do australiano (2º maior do mundo), isso garante o chamado ganho de arbitragem aos tomadores de crédito externo. E incluindo na discussão um 3º problema, podemos mencionar os gastos públicos que só no 1º bimestre deste ano subiram 15%, o que não é ruim, ou incomum aos governos centrais de todo o mundo, o gasto pode, alias deve subir, mas desde que seja numa cadencia em relação percentual ao PIB.


O fato dado é que as empresas daqui estão num movimento singular de aumento de exposição em moeda estrangeira, basicamente o movimento se dá pelo ganho na arbitragem favorecido pela diferença entre os juros internos e externos, pelo cambio valorizado e pelo forte consumo doméstico (fatos já comentados acima). Na pratica uma coisa leva a outra, Juros altos levam ao forte fluxo de capital positivo (sempre na visão Brasil), que leva ao barateamento do crédito interno, que leva ao aumento do consumo. E onde o governo põe o “dedo”? Digamos que o governo tenta acabar com o problema da fome costurando a boca. Ou seja, o consumo está alto! Então reduz o consumo, dobra o IOF dos empréstimos. Só que há uma ressalva nisso tudo. O consumidor não está nem ai se o IOF está em 1,5%, 3%, 15%, ou 70%...nesse caso a conta é mais simples, se cabe, ou não no orçamento. Ele não vai deixar de consumir por que vai pagar um pouco mais na prestação, se a perspectiva para a economia é boa (e é), o emprego está garantido e consequentemente a renda do individuo também está, e assim sendo, o consumo vai existir independente do IOF mais elevado. Mas engano maior é dizer que o Mantega não sabe disso, é obvio que ele sabe (alias sabe muito mais do que nós), só que não é uma questão somente de Brasil, há uma onda mundial de medidas chamadas de “legitima defesa” e que no final de tudo se não causou o efeito desejado pelo menos gerou mais receita ao governo. Só do 1º aumento de IOF no início do ano, foram mais de R$ 7 bi de elevação na arrecadação.


E por que as empresas estão se endividando no exterior de maneira tão agressiva? Além de todas as vantagens já apresentadas acima, há uma razão por de trás que pouco se comenta, ou melhor, nem se comenta. O motivo do por que uma empresa se endivida é problema na geração de caixa, se não, utilizava recurso próprio, puro e simples! E problemas de caixa estão associados além dos prazos entre pagamentos e recebimentos, ao custo de produção. Se o custo de produção está alto é por que há uma inflação pressionando, seja sobre o minério de ferro para as siderurgias, ou o preço do cimento para a construção civil. A mágica é: A empresa se endivida, reforça seu caixa e se for um banco, por exemplo, empresta esse dinheiro cobrando menos porque tomou a custo mais baixo no exterior, o que causa um grande desequilíbrio, pois se a SELIC está no patamar que está é por que a inflação está obrigando a isso e ela está pressionada por que o consumo doméstico está aquecido, só que essa “mágica” dribla a SELIC. Olhando isso entramos em 2 outras discussões: 1 – Isso explica em partes o porquê da alta no preço dos derivados de petróleo (assunto para um próximo post) e 2 – O problema todo só vai amenizar, quando tivermos uma redução dramática na SELIC que a faça convergir para patamares externos. O que nos traz a tona novamente a maior falha de mercado da nossa economia e das economias emergentes em geral: O cambio. E nisso fecho o post, com uma frase muito oportuna do ex-presidente do Santander no Brasil e da FEBRABAN, Fabio Barbosa em entrevista ao jornalista Kennedy Alencar, já há algum tempo, sobre o cambio: “Ideias boas não são novas e ideias novas não são boas.” Com isso fica uma advertência aos leitores sobre sempre haver a necessidade de enxergar as discussões propostas pela mídia por “n” visões, IOF não é nem nunca foi ferramenta de políticas monetária e cambial e nem é das melhores de política fiscal.
Um abraço a todos e não deixem de nos acompanhar.
Obrigado.

03/04/2011

José Alencar


“Existem irmãos que não são companheiros, mas existem companheiros que são como irmãos” Esta foi uma das frases que o ex Presidente Lula usou para definir o ex vice Presidente José Alencar, que faleceu nesta quarta feira, 29 de março de 2011.
Alencar tinha um ar de homem simples, não aparentava ser o empresário poderoso, dono de um dos maiores grupos têxteis do país. Serviu o Brasil não só como vice-presidente, mas em outras oportunidades já exerceu a função de Senador pelo PMDB, após perder as eleições para o governo de Minas Gerais em 1994 e Acumulou entre 2004 e 2006 o cargo de Ministro da defesa, mas acabou renunciando ao cargo para disputar as eleições novamente ao lado de Lula em 2006.   


Nascido em Itamuri, no município de Muriaé, aos 17 de outubro de 1931, filho de Antônio Gomes da Silva e Dolores Peres Gomes da Silva, começou a trabalhar com sete anos de idade, ajudando o pai em sua loja. Tinha 14 irmãos e irmãs. Quando fez quinze anos, em 1946, foi trabalhar como balconista numa loja de tecidos conhecida por "A Sedutora". Em maio de 1948, mudou-se para Caratinga, para trabalhar na "Casa Bonfim". Notabilizou-se como grande vendedor, tanto neste último emprego, quanto no anterior. Ainda durante sua infância, entrou para o movimento escotista.
Aos dezoito anos, iniciou seu próprio negócio. Para isto contou com a ajuda do irmão Geraldo Gomes da Silva, que lhe emprestou quinze mil cruzeiros. Em 31 de março de 1950, abriu a sua primeira empresa, denominada "A Queimadeira", localizada na cidade de Caratinga. Vendia diversos artigos: chapéus, calçados, tecidos, guarda-chuvas, sombrinhas, etc. Manteve sua loja até 1953, quando decidiu vendê-la e mudar de ramo.
Iniciou seu segundo negócio na área de cereais por atacado, ainda em Caratinga. Logo em seguida participou - em sociedade com José Carlos de Oliveira, Wantuil Teixeira de Paula e seu irmão Antônio Gomes da Silva Filho - de uma fábrica de macarrão, a "Fábrica de Macarrão Santa Cruz".
No final de 1959 seu irmão Geraldo faleceu. Assumiu então os negócios deixados por ele na empresa União dos Cometas. Em homenagem ao irmão, a razão social foi alterada para Geraldo Gomes da Silva, Tecidos S.A.
Em 1963, constituiu a Companhia Industrial de Roupas União dos Cometas, que mais tarde passaria a se chamar Wembley Roupas S.A. Em 1967, em parceria com o empresário e deputado Luiz de Paula Ferreira, fundou, em Montes Claros, a Companhia de Tecidos Norte de Minas, Coteminas. Em 1975, inaugurava a mais moderna fábrica de fiação e tecidos que o país já conheceu.

A Coteminas cresceu e hoje são onze unidades que fabricam e distribuem os produtos: fios, tecidos, malhas, camisetas, meias, toalhas de banho e de rosto, roupões e lençóis para o mercado interno, para os Estados Unidos, Europa e MERCOSUL.
Na vida política, foi presidente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais, presidente da FIEMG (SESI, SENAI, IEL, CASFAM) e vice-presidente da Confederação Nacional da Indústria. Candidatou-se às eleições para o governo de Minas Gerais em 1994 e, em 1998, disputou uma vaga no Senado Federal, elegendo-se com quase três milhões de votos. No Senado, foi presidente da Comissão Permanente de Serviço de Infra-Estrutura - CI, membro da Comissão Permanente de Assuntos Econômicos e membro da Comissão Permanente de Assuntos Sociais.
Foi, ao início, um vice-presidente polêmico, ao assumir o cargo em 2003, tendo sido uma voz discordante dentro do governo contra a política econômica defendida pelo ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci, que mantém os juros altos na tentativa de conter a inflação e manter a economia sob controle.
Já a partir de 2004, passou a acumular a vice-presidência com o cargo de ministro da Defesa. Por diversas oportunidades, demonstrou-se reticente quanto à sua permanência em um cargo tão distinto de seus conhecimentos empresariais, mas a pedidos do presidente Lula, exerceu a função até março de 2006. Nesta ocasião, renunciou para cumprir as determinações legais com o intuito de poder participar das eleições de 2006. Foi considerado pela Revista Época um dos 100 brasileiros mais influentes do ano de 2009.
José Alencar possuía um delicado histórico médico. A partir do ano 2000, enfrentou um câncer na região abdominal, tendo passado por mais de quinze cirurgias - uma delas com duração superior a 20 horas. Em sua longa batalha contra o câncer, submeteu-se a um tratamento experimental nos Estados Unidos, com resultado inconclusivo. Em 2010, após repetidas internações e intervenções médicas, decidiu desistir de se candidatar ao Senado.
No final de seu mandato como vice-presidente da República, em 2010, apresentava um complexo estado de saúde, sendo necessária até mesmo a interrupção do tratamento contra o câncer. No dia 22 de dezembro de 2010, foi submetido a uma cirurgia para tentar conter uma hemorragia no abdômen. 

No dia seguinte Lula e a então presidente eleita Dilma Rousseff visitaram-no no hospital Sírio-Libanês em São Paulo.


Em 9 de janeiro de 2011, o sangramento é controlado e ele deixa a UTI. No final do mesmo mês, sai do hospital para receber uma honraria da Prefeitura de São Paulo, recebendo alta pouco depois para que continuasse o tratamento em casa. Em 9 fevereiro, retorna à UTI devido a uma perfuração intestinal, sendo liberado no mês seguinte.

Voltou a ser internado em 28 de março, vindo a morrer no dia 29 devido a falência múltipla dos órgãos em decorrência do câncer na região abdominal.
A presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula da Silva, que no momento da morte de Alencar se encontravam em Portugal por motivo da atribuição de um doutoramento honoris causa ao ex-presidente do Brasil concedido pela Universidade de Coimbra, anteciparam o seu regresso para o dia 30 de março. Dilma Rousseff ofereceu à família de Alencar o Palácio do Planalto para que o corpo seja velado e decretou um luto nacional de uma semana. Lula e Dilma acompanharam o velório em Brasília e Belo Horizonte. 
A família de Alencar optou por sua cremação, em cerimônia realizada no dia 31 de março no Cemitério Parque Renascer, em Contagem

Fontes: Terra, UOL e Wikipedia