Nessas últimas semanas estamos observando algumas medidas fiscais mais austeras do governo para segurar a inflação, que vem numa crescente, se enquadrando num cenário que há muito não víamos. Mas numa visão menos holística, onde está o centro do problema? Será que o aumento no consumo por parte das famílias é o problema todo e ponto final? Nós, do economia sem mito acreditamos que tudo na economia, assim com nas ciências humanas em geral não é explicado por apenas uma razão. Um exemplo disso, o fluxo cambial a que somos submetidos, é causado por no mínimo 2 problemas...1º: O dólar está mais barato, não só aqui, mas no mundo todo e 2º: O juro real brasileiro é quase o triplo do australiano (2º maior do mundo), isso garante o chamado ganho de arbitragem aos tomadores de crédito externo. E incluindo na discussão um 3º problema, podemos mencionar os gastos públicos que só no 1º bimestre deste ano subiram 15%, o que não é ruim, ou incomum aos governos centrais de todo o mundo, o gasto pode, alias deve subir, mas desde que seja numa cadencia em relação percentual ao PIB.
O fato dado é que as empresas daqui estão num movimento singular de aumento de exposição em moeda estrangeira, basicamente o movimento se dá pelo ganho na arbitragem favorecido pela diferença entre os juros internos e externos, pelo cambio valorizado e pelo forte consumo doméstico (fatos já comentados acima). Na pratica uma coisa leva a outra, Juros altos levam ao forte fluxo de capital positivo (sempre na visão Brasil), que leva ao barateamento do crédito interno, que leva ao aumento do consumo. E onde o governo põe o “dedo”? Digamos que o governo tenta acabar com o problema da fome costurando a boca. Ou seja, o consumo está alto! Então reduz o consumo, dobra o IOF dos empréstimos. Só que há uma ressalva nisso tudo. O consumidor não está nem ai se o IOF está em 1,5%, 3%, 15%, ou 70%...nesse caso a conta é mais simples, se cabe, ou não no orçamento. Ele não vai deixar de consumir por que vai pagar um pouco mais na prestação, se a perspectiva para a economia é boa (e é), o emprego está garantido e consequentemente a renda do individuo também está, e assim sendo, o consumo vai existir independente do IOF mais elevado. Mas engano maior é dizer que o Mantega não sabe disso, é obvio que ele sabe (alias sabe muito mais do que nós), só que não é uma questão somente de Brasil, há uma onda mundial de medidas chamadas de “legitima defesa” e que no final de tudo se não causou o efeito desejado pelo menos gerou mais receita ao governo. Só do 1º aumento de IOF no início do ano, foram mais de R$ 7 bi de elevação na arrecadação.
E por que as empresas estão se endividando no exterior de maneira tão agressiva? Além de todas as vantagens já apresentadas acima, há uma razão por de trás que pouco se comenta, ou melhor, nem se comenta. O motivo do por que uma empresa se endivida é problema na geração de caixa, se não, utilizava recurso próprio, puro e simples! E problemas de caixa estão associados além dos prazos entre pagamentos e recebimentos, ao custo de produção. Se o custo de produção está alto é por que há uma inflação pressionando, seja sobre o minério de ferro para as siderurgias, ou o preço do cimento para a construção civil. A mágica é: A empresa se endivida, reforça seu caixa e se for um banco, por exemplo, empresta esse dinheiro cobrando menos porque tomou a custo mais baixo no exterior, o que causa um grande desequilíbrio, pois se a SELIC está no patamar que está é por que a inflação está obrigando a isso e ela está pressionada por que o consumo doméstico está aquecido, só que essa “mágica” dribla a SELIC. Olhando isso entramos em 2 outras discussões: 1 – Isso explica em partes o porquê da alta no preço dos derivados de petróleo (assunto para um próximo post) e 2 – O problema todo só vai amenizar, quando tivermos uma redução dramática na SELIC que a faça convergir para patamares externos. O que nos traz a tona novamente a maior falha de mercado da nossa economia e das economias emergentes em geral: O cambio. E nisso fecho o post, com uma frase muito oportuna do ex-presidente do Santander no Brasil e da FEBRABAN, Fabio Barbosa em entrevista ao jornalista Kennedy Alencar, já há algum tempo, sobre o cambio: “Ideias boas não são novas e ideias novas não são boas.” Com isso fica uma advertência aos leitores sobre sempre haver a necessidade de enxergar as discussões propostas pela mídia por “n” visões, IOF não é nem nunca foi ferramenta de políticas monetária e cambial e nem é das melhores de política fiscal.
Um abraço a todos e não deixem de nos acompanhar.
Obrigado.
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