Estamos vivenciando um momento no qual assistimos o avanço da inflação sem uma postura mais enérgica das autoridades responsáveis pelo controle da mesma. A tentativa recente de frear o consumo, aplicando um aumento da alíquota do Imposto sobre operações financeiras (IOF), podemos afirmar que não tem surtido o efeito esperado.
O que temos visto é a queda do dólar, aumentando o consumo dos produtos importados, e uma grande alta no preço dos alimentos, o que prejudica de imediato a grande parcela da população com poder aquisitivo inferior.
Percebemos que o Governo Dilma vem atacando a inflação com certo ar de leveza, o que nos preocupa, pois a estabilidade em que vivemos nos últimos anos, pode estar ameaçada. Lula acertou ao dar continuidade no modelo de sustentação da estabilidade deixado por FHC — o tripé formado por câmbio flutuante, geração de superávit nas contas do governo e metas para a inflação.
A inflação é um pesadelo para empresários, cidadãos comuns e até mesmo o próprio governo.
“O mercado está confuso porque a política econômica tem tentado perseguir simultaneamente vários objetivos díspares”, diz o economista Cláudio Haddad, presidente da escola de negócios Insper, de São Paulo. “De um lado, o governo anuncia um ajuste fiscal, mas, de outro, continua a gastar”.

A cada dia que passa a população vê o poder de compra de seus salários, diminuir. No intervalo de mais ou menos um mês, os preços nas gôndolas dos supermercados brasileiros variaram muito (para cima).
"A inflação registrada pelo grupo Alimentação voltou a avançar, puxando a alta de 0,95% do Índice de Preços ao Consumidor - Semanal (IPC-S) em abril. Segundo a Fundação Getúlio Vargas (FGV), o grupo saiu de uma alta de 0,91% na quadrissemana encerrada em 22 de abril para um acréscimo de 1,04% na quadrissemana encerrada no dia 30.
Entre os itens que contribuíram para a inflação no grupo estão hortaliças e legumes (de 3,71% para 4,20%), panificados e biscoitos (de -0,43% para -0,22%), laticínios (de 2,12% para 2,51%) e carnes e peixes industrializados (de 0,74% para 1,16%). O item alimentação fora de casa também acelerou, de 0,70% para 0,89%." Jornal Estado de São Paulo
Há dois meses, a ministra Miriam Belchior, do Planejamento, anunciou cortes de 50 bilhões de reais no orçamento. Até agora, porém, não se viu onde as despesas serão reduzidas.Ao mesmo tempo, o Tesouro continua a repassar recursos ao Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social. O dinheiro é emprestado a empresas a juro subsidiado. Segundo o economista Mansueto Almeida, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, até o final do ano o estoque de crédito do governo ao BNDES alcançará 315 bilhões de reais — cinco anos atrás era inferior a 10 bilhões.
“Fica difícil para o BC conter a inflação enquanto o Tesouro injeta mais dinheiro no BNDES”, diz o economista John Welch, do banco de investimento australiano Macquarie.
A falta de pulso firme do Governo no combate a inflação se deve ao receio de frear o crescimento, mas devemos olhar um pouco para o passado e relembrar o Brasil da década de 70 onde o mundo nos elogiava e nos considerava como grande potência econômica dos anos 80, após o milagre econômico.
O então Ministro da Fazenda na ocasião, Delfim Neto, fez a seguinte declaração: “Uma inflação de 19% no Brasil causa menos mal do que 5% nos Estados Unidos”
Em 1973, o mundo sofreu o primeiro choque do petróleo. O governo brasileiro, em vez de reagir com um ajuste que esfriasse a economia, adotou uma política desenvolvimentista bancada por endividamento externo. No final da década, enquanto o crescimento perdia o fôlego, a inflação já alcançava 95%
Passadas quase quatro décadas, o Brasil volta a ser motivo de elogio no exterior e a esbanjar autoconfiança. Em 2010, o crescimento foi de 7,5% e o nível de emprego formal bateu recorde.
Muito diferente do Brasil dos anos 70, o Brasil de hoje possui mais resistência a choques externos, devido as reservas de US$ 320 bi, mas alguns economistas já comparam o governo de Dilma Roussef com o dos generais Emílio Medici e Ernesto Geisel.
“A segunda edição do Plano Nacional de Desenvolvimento lançada pelo governo Geisel se parece com o Plano de Aceleração do Crescimento, o PAC”, diz o economista Samuel Pessôa, da consultoria Tendências. “Ambos têm a mesma premissa ideológica de que o desenvolvimento passa pelo aumento da ação do Estado, financiando obras de infra-estrutura e apoiando a indústria nacional.”
No passado, dívidas foram contraídas para erguer obras como a usina de Itaipu, mas também se torrou dinheiro em projetos descabidos, como a Ferrovia do Aço. Hoje, o PAC financia as hidrelétricas do rio Madeira, mas também promete gastar bilhões com o trem-bala.
Que o passado sirva de lição para nós. Avançamos muito nos últimos anos, mas algumas medidas de combate a inflação devem ser revistas, ou poderemos nos ver no meio da incerteza novamente, e algumas pessoas no futuro poderão citar esta década como sendo mais uma década perdida. Nós não queremos isso.
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