26/05/2011

SELIC: apenas mais uma ferramenta!



Todos os dias, pela manhã indo para o trabalho tenho o costume de ouvir o Jornal Gente da Radio Bandeirantes (para quem quiser acompanhar: 90.9 FM, ou 840 AM a partir das 8 da manhã) e nesta última segunda-feira (9/5) guardei algo interessante que o Joelmir disse no seu quadro diário (As 3 faces da moeda) e logo após endossado pelo professor Delfim que todas as segundas fala por volta de 8h30min ao jornal. SELIC alta provoca mais inflação e não menos. Confesso que fiquei ressabiado a 1ª vista, e paguei para ver!

Ao iniciarmos os estudos de economia, logo no primeiro ano de faculdade somos “lobotomizados” a responder a esta questão de bate pronto: SELIC alta; segura ou não segura inflação? Eu, você e provavelmente qualquer outro diria de olhos vendados: SIM, mas voltemos a bater mais uma vez na mesma tecla de sempre; economia tal como as demais ciências humanas e sociais, não se sustenta por apenas uma visão e, portanto não se explica por apenas uma escola de pensamento, ou simplesmente, não há apenas uma resposta correta. Eis então que surge a discussão:
 - Resumindo a questão, estamos no período chamado de aperto monetário, onde o mercado já estima novas altas da SELIC e o governo já admite a “cusparada pra cima” da elevação dos juros internos, criando uma desconexão cada vez maior em relação às taxas de juros externas. Mas isso é outro assunto.  E por que o Tombini faz isso?


 Bem! Uma resposta obvia e pronta: O temor ao retorno do “dragão da inflação”. Certo! Mas o fato é que este, já está à solta aterrorizando o consumidor, com uma perspectiva de fechamento da inflação quase acima do teto de 6,5% da meta para este ano.
Com isso já temos bagagem para irmos imediatamente ao tema central do post:
SELIC alta não é fator determinante no combate à inflação e ao inverso ainda ajuda na elevação dos preços.
 Isso se comprova num recente estudo realizado pela faculdade de economia  La Sapienza University de Roma,  a pedido do BIS (Banco Internacional de Compensações, localizado em Basel na Suíça, o banco central dos bancos centrais), onde neste estudo, por meio de uma série histórica de quase meio século, mostra que as taxas de juros básicas das principais economias do globo quando elevadas tendem a puxar para cima a inflação de seus respectivos países. Esse fato se explica por um raciocínio muito simples:
Taxa base de juros alta, eleva os custos de produção, que são repassados aos consumidores finais.
O preço do carro sobe, por que o minério de ferro sobe, o arroz sobe por que o fertilizante está caro e por ai vai.
Para reforçar essa tese, realizamos um estudo comparativo entre PIBxSELICxIPCA de 2002 para cá, onde fica explicito que há uma relação muito maior de PIB com IPCA do que propriamente, SELIC com IPCA:

OBS1: O prazo médio do mercado para a SELIC fazer algum efeito na economia é de 3 meses.
OBS2: Não considere 2009 na analise, qualquer efeito sobre a economia brasileira naquele momento era totalmente influenciado pela crise de crédito global.
Este gráfico nos diz que o governo segura a inflação freando o crescimento e é pelo PIB que se olha o comportamento da inflação e não pela SELIC.



O que acontece agora com a economia nacional é um reflexo da crise nos gigantes...isto é, as incertezas na Europa e EUA inundam o Brasil de dólares, principalmente pelo ganho de arbitragem entre taxas de juros. A lógica é a seguinte:

- Quanto mais dólar na economia, menos Real, se tem menos Real automaticamente ele está mais caro e se a moeda está mais cara então você tem mais inflação, somado a isso, temos o crédito e a recente ascensão da nova classe média, isso incrementa de maneira preocupante a perspectiva de inflação.

Nesse cenário cabe ao governo central cortar gastos, já que no momento de crise gastou a mais do que devia e o pior, gastou errado. A chamada política anticíclica, veementemente elogia mundo a fora se transformou numa maquina pública inchada, contratar funcionários é política anticíclica até a página 2, na 3 vira gasto permanente, pois quando a crise passa o governo não pôde simplesmente demitir, pelo contrário ainda deve corrigir os salários acima da inflação, pagar 13º, férias, etc, etc, etc.

Por fim é importante salientar que nosso objetivo não é tirar a credibilidade do Banco Central, (que é o menos culpado dessa história), pois em momento algum afirmamos que SELIC não é e não deve ser utilizada como ferramenta de política monetária, apenas estamos mostrando que o que dizem por ai sobre a SELIC é mito, anedota, mas mesmo assim podemos sem medo afirmar: SELIC pode ser utilizada para combater à inflação, mas são os gastos de custeio, que precisam de ajuste antes da taxa de juros.
Não se esqueçam:
Política monetária é refém de política fiscal, enquanto o governo gastar o que gasta e da forma que gasta as chamadas falhas de mercado serão cada vez mais visíveis e nocivas à economia. Tudo tende ao seu devido lugar quando o governo não age com medidas descabidamente populares e inconsequentes, visando o voto e nada mais.
Um grande abraço a todos, não deixem de nos acompanhar.
Economia sem Mito

01/05/2011

Dilma e o combate à inflação



Estamos vivenciando um momento no qual assistimos o avanço da inflação sem uma postura mais enérgica das autoridades responsáveis pelo controle da mesma. A tentativa recente de  frear o consumo, aplicando um aumento da alíquota do Imposto sobre operações financeiras (IOF), podemos afirmar que não tem surtido o efeito esperado.


O que temos visto é a queda do dólar, aumentando o consumo dos produtos importados, e uma grande alta no preço dos alimentos, o que prejudica de imediato a grande parcela da população com poder aquisitivo inferior.


Percebemos que o Governo Dilma vem atacando a inflação com certo ar de leveza, o que nos preocupa, pois a estabilidade em que vivemos nos últimos anos, pode estar ameaçada. Lula acertou ao dar continuidade no modelo de sustentação da estabilidade deixado por FHC — o tripé formado por câmbio flutuante, geração de superávit nas contas do governo e metas para a inflação.
A inflação é um pesadelo para empresários, cidadãos comuns e até mesmo o próprio governo.
“O mercado está confuso porque a política econômica tem tentado perseguir simultaneamente vários objetivos díspares”, diz o economista Cláudio Haddad, presidente da escola de negócios Insper, de São Paulo. “De um lado, o governo anuncia um ajuste fiscal, mas, de outro, continua a gastar”.


 


A cada dia que passa a população vê o poder de compra de seus salários, diminuir. No intervalo de mais ou menos um mês, os preços nas gôndolas dos supermercados brasileiros variaram muito (para cima).


"A inflação registrada pelo grupo Alimentação voltou a avançar, puxando a alta de 0,95% do Índice de Preços ao Consumidor - Semanal (IPC-S) em abril. Segundo a Fundação Getúlio Vargas (FGV), o grupo saiu de uma alta de 0,91% na quadrissemana encerrada em 22 de abril para um acréscimo de 1,04% na quadrissemana encerrada no dia 30.
Entre os itens que contribuíram para a inflação no grupo estão hortaliças e legumes (de 3,71% para 4,20%), panificados e biscoitos (de -0,43% para -0,22%), laticínios (de 2,12% para 2,51%) e carnes e peixes industrializados (de 0,74% para 1,16%). O item alimentação fora de casa também acelerou, de  0,70% para 0,89%." Jornal Estado de São Paulo
Há dois meses, a ministra Miriam Belchior, do Planejamento, anunciou cortes de 50 bilhões de reais no orçamento. Até agora, porém, não se viu onde as despesas serão reduzidas.
Ao mesmo tempo, o Tesouro continua a repassar recursos ao Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social. O dinheiro é emprestado a empresas a juro subsidiado. Segundo o economista Mansueto Almeida, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, até o final do ano o estoque de crédito do governo ao BNDES alcançará 315 bilhões de reais — cinco anos atrás era inferior a 10 bilhões.
“Fica difícil para o BC conter a inflação enquanto o Tesouro injeta mais dinheiro no BNDES”, diz o economista John Welch, do banco de investimento australiano Macquarie.


A  falta de pulso  firme do Governo  no combate a inflação se deve ao receio de  frear o crescimento, mas devemos olhar um pouco para o passado e relembrar o Brasil da década de 70 onde o mundo nos elogiava e nos considerava como grande potência econômica dos anos 80, após o milagre econômico.
 O então Ministro da Fazenda na  ocasião, Delfim Neto,  fez a seguinte declaração: “Uma inflação de 19% no Brasil causa menos mal do que 5% nos Estados Unidos”
Em 1973, o mundo sofreu o primeiro choque do petróleo. O governo brasileiro, em vez de reagir com um ajuste que esfriasse a economia, adotou uma política desenvolvimentista bancada por endividamento externo. No final da década, enquanto o crescimento perdia o fôlego, a inflação já alcançava 95%
Passadas quase quatro décadas, o Brasil volta a ser motivo de elogio no exterior e a esbanjar autoconfiança. Em 2010, o crescimento foi de 7,5% e o nível de emprego formal bateu recorde.
Muito diferente do Brasil dos anos 70, o Brasil de hoje possui mais  resistência a choques externos, devido as reservas de  US$ 320 bi, mas alguns economistas já comparam o governo de Dilma Roussef com o dos generais Emílio Medici e Ernesto Geisel.


“A segunda edição do Plano Nacional de Desenvolvimento lançada pelo governo Geisel se parece com o Plano de Aceleração do Crescimento, o PAC”, diz o economista Samuel Pessôa, da consultoria Tendências. “Ambos têm a mesma premissa ideológica de que o desenvolvimento passa pelo aumento da ação do Estado, financiando obras de infra-estrutura e apoiando a indústria nacional.”
No passado, dívidas foram contraídas para erguer obras como a usina de Itaipu, mas também se torrou dinheiro em projetos descabidos, como a Ferrovia do Aço. Hoje, o PAC financia as hidrelétricas do rio Madeira, mas também promete gastar bilhões com o trem-bala.
Que o passado sirva de lição para nós. Avançamos muito nos últimos anos, mas algumas medidas de combate a inflação devem ser revistas, ou poderemos nos ver no meio da incerteza novamente, e algumas pessoas no futuro poderão citar esta década como sendo mais uma década perdida. Nós não queremos isso.

Fontes: Revista Exame e Jornal Estado de São Paulo