12/05/2010

PROER, um bem para os bancos, ou para os banqueiros?


Sempre que se fala em PROER, certa dúvida sobre a necessidade de ter realizado o programa, ou não, paira sobre as cabeças esquerdistas que até outrora eram apoiadas pelo PT e principalmente pelo então presidente Lula. O PROER, muito atacado pelo atual presidente nos seus tempos de oposicionista, ganhou notórios e rasgados elogios em meio à crise financeira global de 2008, não só pelos então ex-esquerdistas do PT, como pelo mundo todo.
Não fosse o PROER e nós teríamos afundado já naquela época no nascimento do Real. Após longos e tenebrosos anos de hiperinflação, os bancos aproveitavam esta instabilidade econômica para desviar recursos, apenas os seis maiores bancos privados do País embolsaram em 1993, o equivalente a R$ 5,1 bilhões à custa da inflação, ou seja, a inflação era tão alta que qualquer valor era rapidamente “comido” pela desvalorização da moeda. Para se ter uma idéia em 2009 o ganho foi 99,31% menor do que esse valor. Quando veio a estabilização muitos bancos entraram em dificuldades e muitos em dificuldades graves, com seus balanços fraudados.
Muitos devem estar se perguntando: Então se os bancos praticaram atividades criminosas em suas operações, por que fazer um programa de salvamento bancário?
Veja! É necessário que se façam algumas analises:
1º A resposta já está na pergunta. O PROER foi um plano de salvamento bancário e não banqueiro!
2º Não fosse isso, teríamos entrado em um colapso financeiro generalizado com a falência de muitos bancos e a deterioração de grande parte da poupança dos brasileiros, o que geraria uma crise sistêmica com a queda brusca da demanda agregada e queda vertiginosa nos preços dos produtos, o que paralisaria a produção interna.
3º Ao contrário do que foi feito no salvamento do sistema financeiro mundial nessa última crise, onde os governos transferiram dinheiro diretamente para os bancos sem punir os banqueiros, no Brasil que antes se dava dinheiro do tesouro para o banqueiro se safar, isso não ocorreu, pois o banqueiro vendeu o banco, caso do Bamerindus, propriedade da família Andrade Vieira, que mais tarde seria incorporado parte pelo HSBC e parte pelo BACEN, os bens foram penhorados e o banqueiro processado. 
4º O Banqueiro não iria utilizar o dinheiro do tesouro, mas sim do BACEN, ou seja, do próprio sistema bancário até que a situação se normalizasse.
5º É obvio que se tiveram perdas no Tesouro Nacional, mas coisa de 1%, 2,5% do PIB, enquanto normalmente ocorrem 7, 10, 15% do PIB.
Outro ponto não menos importante a se ressaltar nesta discussão, porém pouco comentado, por falta de conhecimento e de interesse político, pois envolveu diretamente os bancos públicos, é que o PROER foi importante, mas até mais efetivo do que o próprio PROER foi o PROES.
PROES é o correspondente do PROER nos bancos públicos que estavam em pior situação que os bancos privados.
Os bancos dos estados estavam falidos, os governos de muitos estados tomavam empréstimos aos bancos e não pagavam, funcionava como um caixa 2 veja o caso do BANESPA, que ainda durou até 2000, após ser adquirido pelo gigante espanhol Santander. O PROES teve mais efeito do que o PROER. Palavras do próprio presidente na época FHC confirmam esse fato:
“A Caixa Econômica estava paralisada, pois os estados e municípios não pagavam a Caixa e como a inflação era alta, todos foram perdendo o controle. Houve um, ou dois anos que não foi possível publicar o balanço patrimonial da Caixa, por que era negativo. A Caixa não tinha dinheiro para emprestar.” FHC em entrevista a revista Veja.
O governo tomou medidas eficientes para solucionar o problema da Caixa, que hoje é referência quando se trata de financiamentos imobiliários e recebimento de benefícios em geral. São elas:
 • Foram fechadas agencias que não tinham sentido, agencias abertas em demasia;
• Foi extinto o controle dos estados;
• Foi criado um escritório de negócios, o que gerou insatisfação de muitos deputados, que tinham influência e favoreciam empréstimos,
Ou seja, a Caixa virou uma empresa.
Outro caso é o Banco do Brasil, a dívida agrária do BB era de mais de 20 bi USD, nesta época a divida externa era de 40, metade da divida. Isso se deu, pois os agricultores só se financiavam no Banco do Brasil e todo ano se rolava a divida, se renegociava a divida rural, com isso o BB não recebia. O governo FHC chegou a transferir 7 Bi de reais que equivaliam a 7 Bi de USD na época, para salvar o BB. A solução de tal problema só começou a se dar quando no mesmo governo foi criada a Cédula do Produtor Rural que permitia que ao invés dos produtores se financiassem no Banco do Brasil, se financiassem no mercado. Uma curiosidade é que nesse mesmo período criou-se também o PRONAF, financiamento da agricultura familiar, pois até então só havia financiamento para grandes agricultores, através do Banco do Brasil.
Se for possível responder a pergunta do início do texto com outra;
Será mesmo que o PROER foi algo que recompensou a irresponsabilidade dos banqueiros, ou salvou o sistema financeiro brasileiro?
Por: Rafael Basile

4 comentários:

  1. Quem obrigava o BB a rolar a dívida dos grandes agricultores? Não era a diretoria ou a presidência da empresa e sim o Governo Federal!!

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  2. Simples. Bastava ter transferido as contas dos bancos que estavam quebrando para o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Nacional, sem ter vendido nada aos gringos. Hoje, o Banco do Brasil e a Caixa estariam entre os dois maiores bancos do mundo e não estaríamos na mão de piratas , como Sr. Emilio Botin, Presidente do Santander, que está sendo processado em vários países do mundo, como estamos agora, correndo o risco do Santander quebrar por causa na péssima situação espanhola.

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  3. Só para esclarecer, quanto representa "É obvio que se tiveram perdas no Tesouro Nacional, mas coisa de 1%, 2,5% do PIB [...]" em R$, só para esclarecer? Seria algo em torno de R$ 100 bilhoes de reais! Uma "coisa" de R$ 100 bilhões não é nada mesmo né.

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  4. Bom esclarecimento! Criticar é moleza, pegar o volante para conduzir as reformas necessárias e atingir os objetivos sem afetar a frágil economia em recuperação é para poucos.

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