22/04/2010

O Swap Cambial


Quando o BACEN anuncia que irá entrar no mercado de cambio para comprar dólares, ou vender dólares a fim de equilibrar um pouco o preço da moeda americana; muitas pessoas não imaginam por meio de qual mecanismo o governo se faz presente nesse mercado.
O fato é que toda vez que aparece um problema na economia que seja anormal, ou insolúvel somente com as ferramentas existentes no mercado, tal problema é considerado como uma falha de mercado. O câmbio nada mais é do que uma falha de mercado da qual o governo, responsável pela estabilidade macroeconômica do país, se incube de resolver. Essa é a chamada função estabilizadora da economia da qual se ocupa o governo federal.






Para entendermos resumidamente como o BACEN age na intervenção do cambio, imaginemos dois cenários:


1)     Se o dólar estiver em perspectiva de alta:
Imaginemos que exista uma perspectiva de alta para o próximo período com relação ao dólar, o que prejudicaria as importações, o BACEN então sente a necessidade de intervir para tirar pressão do cambio futuro evitando a compra no mercado à vista e assim garantindo a oferta de produtos importados. O BACEN coloca no mercado seus contratos de Swap Cambial por meio de um leilão, os quais serão comprados pelas instituições financeiras. Isso equivale à venda de dólar no mercado futuro, pois com esses contratos o BACEN paga a instituição a variação cambial e a instituição por sua vez paga ao BACEN uma taxa de juros (SELIC + percentual). Esses contratos são interessantes para quem possui compromissos em dólar e receitas em reais, ou seja, empresas importadoras. Desta forma o importador fica seguro contra a variação cambial fazendo o chamado Hedge.


2)     Se o dólar estiver em perspectiva de baixa:
Imaginemos agora que a moeda americana esteja caminhando para uma baixa no período seguinte, o que prejudicaria desta vez as exportações, o BACEN sentindo a necessidade de intervir a fim de segurar o preço do dólar em patamares que garantam aos exportadores um preço mais favorável, leiloa no mercado contratos de swap cambial reverso. Reverso, pois desta forma é o BACEN que se incube do pagamento da taxa de juros e assim sendo recebe a variação cambial do período. Esse mecanismo equivale à compra de dólar no mercado futuro, por isso a moeda americana sobe quando o BACEN faz o leilão. Esse tipo de negociação é interessante para os exportadores que possuem suas receitas em dólar e seus compromissos em real, sendo necessária uma conversão da moeda para pagar os fatores de produção. O BACEN por sua vez evita a inundação de dólar no mercado.
No Brasil utilizamos os contratos de Swap cambial em momentos de crise, pois são nesses momentos que há mais fuga de dólar, quando investidores do mundo inteiro estão recompondo suas perdas com recursos aplicados em países de mercado emergente. A falta de dólar encarece a moeda americana o que obriga o BACEN muitas vezes a intervir no mercado de câmbio. A diferença entre o que o BACEN paga pelos contratos e o que ele recebe, é paga pelo tesouro nacional nas chamadas NFSP (necessidades de financiamento do setor público), isso gera um aumento da dívida. Em momentos de pré e pós-crise, quando a tendência é de haver mais dólares no mercado do que durante uma crise, o BACEN se utiliza do Swap cambial reverso para segurar o preço do dólar.

Por: Rafael Basile


O Plano Real



O Brasil necessitava de um novo plano para salvar sua economia, não poderíamos prosseguir com uma inflação desajustada aos mesmos níveis dos anos 80.
O Presidente Itamar Franco reuniu pessoas capazes de elaborar uma saída para a economia do país, foram eles, Fernando Henrique Cardoso, sociólogo e Ministro da Fazenda, juntamente com os economistas: Persio Arida, André Lara Resende, Gustavo Franco, Pedro Malan e Edmar Bacha.

Estes tinham uma difícil missão a cumprir; elaborar um plano econômico que acabasse com a pressão dos preços sem congelamento dos mesmos e diminuir a liquidez na economia, sem bloquear poupanças como no plano anterior.
Árida teve a idéia, então FHC logo pensou em colocá-la em prática.


No vídeo abaixo o ex presidente fala um pouco sobre o plano:


O Plano Real era tido como um plano tecnicamente bem feito, mas alguns economistas temiam que o governo falhasse na execução; o que era muito comum em políticas de estabilização, onde não se errava no plano e sim na execução.
A execução do plano englobava principalmente Política fiscal e Monetária, essas duas deveriam ser e foram infalíveis para o sucesso do mesmo.

O Plano Real foi um marco na economia brasileira e mundial, bateu recorde no tempo de planejamento e colocação da nova moeda em circulação. Essas operações ocorreram em apenas 8 meses.

Após a saída de FHC do ministério para concorrer às eleições presidenciais de 1994, Rubens Ricupero assumiu o posto de Ministro da Fazenda e deu continuidade ao plano.
Ricupero teve grande participação no plano, cuidou de sua execução de uma forma exemplar, sendo mais tarde reconhecido pelo próprio FHC como uma das pessoas mais importantes para que o plano obtivesse êxito.

“Aqui jaz a moeda que acumulou, de julho de 1965 a junho de 1994, uma inflação de 1,1 quatrilhão por cento. Sim, inflação de 16 dígitos, em três décadas. Ou precisamente, um IGP-DI de 1.142.332.741.811.850%. Dá para decorar? Perdemos a noção disso porque realizamos quatro reformas monetárias no período e em cada uma delas deletamos três dígitos da moeda nacional. Um descarte de 12 dígitos no período. Caso único no mundo, desde a hiperinflação alemã dos anos 1920.”           
                                                                                            Joelmir Beting

Após o escândalo da Parabólica Ricupero deixou o ministério, sendo substituído por Ciro Gomes em Setembro de 1994. Ciro não teve participação nenhuma no Plano Real.
A população teve de se adaptar muito rápido às mudanças impostas pelo Governo, antes da introdução oficial do Real em 01/07/1994 as pessoas se viram usando até três moedas diferentes (Cruzeiro real, URV e Real). Era comum ir à feira e ver placas com preços marcados em vários tipos de moeda.


Segundo jornais e revistas da época cobradores de ônibus receberam treinamento de ultima hora para calcular preço de passagens e troco. Muitas pessoas tinham contato com a nova moeda nas próprias catracas dos ônibus. Outros recebiam a nova moeda e não conseguiam gastar, alegavam que aquilo só seria dinheiro em no mínimo 20 dias.

O Plano Real enfrentou algumas crises, a primeira foi a do México em 1995; entre 1997 e 1998 cerca de 400 instituições financeiras quebraram, mas por mais espantoso que seja este cenário já era esperado, pois estas instituições não se prepararam para um ambiente sem inflação crônica.
Hoje em dia temos um sistema bancário considerado intacto, passamos quase que ilesos à crise do SUBPRIME. Outro fator que colaborou para a segurança dos bancos foi a criação do PROER (Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional) em 1995, este plano dá pode ao Banco Central para intervir no caso de falência da instituição.

Mas a crise do México manchava a imagem dos demais países emergentes, então investidores viam o Brasil com certa desconfiança, o que levou o Banco Central a elevar sua taxa de juros (SELIC) para tentar manter o capital estrangeiro. Em 1998 veio a crise da Ásia e em 1999 a crise da Rússia, com isso a SELIC alcançou o nível de 45% em março de 1999. Em Janeiro do mesmo ano o País abandonou o regime de câmbio fixo, desde então Brasil adota o regime de câmbio flutuante (o preço do US$ é determinado pelo mercado). Depois vieram as crises do Apagão e das Torres Gêmeas em 2001, refletindo nas bolsas de valores em todo o mundo e no Brasil vivíamos a crise do apagão. O governo continuou com as mesmas medidas e mesmo assim o Brasil foi muito afetado. Nas eleições de 2002 o PT colocou em evidência as crises sofridas pelo governo FHC, colocando em xeque a candidatura do Tucano José Serra. As decisões tomadas em 1999 e adiante foram muito importantes para a estabilidade do plano ao longo desses anos. Após a saída de FHC da presidência, Lula reuniu pessoas capazes de conduzir a Economia de uma forma que podemos afirmar que o Plano Real foi aprimorado nestes 7 anos de Governo.

As medidas anticíclicas tomadas durante a crise de 2008 foram essenciais para o sucesso do Brasil em meio a um cenário econômico caótico. O estimulo ao crédito e a responsabilidade de tranqüilizar a população em meio a uma crise de grandes proporções levou o país a sair da crise quase que ileso.
Acredito que estamos no rumo certo, esta moeda foi e é fundamental para o nosso desenvolvimento como Grande Economia do mundo.
Esperamos que os próximos governantes, saibam guiar nosso país de maneira que as medidas que conhecemos hoje sejam aprimoradas no futuro.

Por: Nilton Nascimento

08/04/2010

Plano Collor, um outro ponto de vista


Cresci sendo forçado a crer que o Plano Brasil Novo, mais conhecido como “Plano Collor”, foi um vilão na história do Brasil. Hoje olhando com outro ponto de vista, levantando as causas antecedentes ao plano e a situação econômica do país naquele momento, posso afirmar que o Plano Collor não foi tão vilão assim como dizem.


As intenções do Plano Brasil Novo eram as melhores possíveis, tendo em vista a situação econômica do país naquele momento, onde os índices de inflação atingiam dois dígitos ao mês, chegando a incríveis 2.000% no ano de 1989, ano este em que Collor foi eleito por voto direto, a primeira eleição celebrada desta maneira no Brasil. Conter a inflação incentivada por altos níveis de liquidez era o principal objetivo do plano. Que possuía muitas medidas racionais, tendo em vista a situação em que se encontrava a economia no período em questão. A ministra da Fazenda, Zélia Cardoso juntamente com Ibrahim Eris, então presidente do Banco Central e Antônio Kandir, idealizaram o Plano, com objetivo de conter a inflação, tendo como medidas principais: Diminuir o excesso liquidez (muito dinheiro circulando estimulava a alta dos preços); Cortar o déficit público (gastos do governo) e a Desindexação da economia (mecanismo que reajustava os preços automaticamente, acompanhando a inflação passada).



A medida que é até hoje lembrada, com muita polêmica, é a que estava dentro do plano de reduzir a liquidez, que consistia em bloquear por 18 meses os depósitos em poupança acima de NCz$ 50 mil. Tais depósitos eram corrigidos diariamente pelo “overnight*”, na época visto como alimentador da inflação. A lógica por trás desta medida era bem simples, com menos dinheiro na economia, as pessoas não gastariam, isso por sua vez reduziria o consumo. Sendo assim não haveria pressão inflacionária.
No plano também estava incluso a troca de moeda; migraríamos de Cruzados Novos (NCz$) para o Cruzeiro (Cr$) com dois propósitos: Permitir o bloqueio sem transgredir a lei, pois os recursos seriam devolvidos em moeda diferente; e marcar a mudança da política econômica.
Dias atrás quando assistia a uma entrevista do então Ministro das Comunicações, Hélio Costa, percebi que ao ser questionado sobre o ex-presidente Fernando Collor, ele o definiu como injustiçado, fiquei com isso na cabeça e fui buscar razões para ele ter dado essa resposta.


Collor foi eleito em circunstâncias duvidosas, no que diz respeito à mídia. Mas o certo é que ele foi eleito, conseguiu derrotar o atual Presidente no 2º turno das Eleições daquele ano.
O “Plano Collor” trouxe benefícios ao país, o plano previa a redução gradual das tarifas de importação, para forçar a competição. Assim, com os produtos importados mais baratos, o mercado interno seria forçado a reduzir os preços e melhorar a qualidade de seus produtos.
A desindexação estabeleceu que os contratos não poderiam mais usar a inflação para correção monetária em prazos inferiores a um ano. Com isso os salários, investimentos e contratos não poderiam ser mais reajustados automaticamente pela inflação do mês anterior. A lógica é a seguinte: ao aumentar os preços, essa indexação “carrega” para frente essa inflação passada.


O ajuste nas contas públicas englobava demissões em massa de servidores públicos, aumento de tarifas públicas e o inicio das privatizações. Isso reduziria a quantidade de dinheiro que o governo “despejava” para pagar suas próprias contas.
Olhando os objetivos do Plano, começo a entender a resposta do Ministro Hélio Costa.
Eu não tinha idade para compreender tais benefícios na época, mas hoje compreendo que Collor com medidas um tanto drásticas, mas necessárias, conseguiu deixar o terreno pronto para receber o “plano real”. Pois o plano real de 1994 foi desenhado por Collor, e ele não seria possível se tais medidas não fossem tomadas quatro anos antes. 


Por: Nilton Nascimento
                                                                                                                                                             

05/04/2010

Divida Mobiliária x Reservas Internacionais = Custo Fiscal elevado


Muitas pessoas se enganam ao observarem as reservas internacionais como algo somente benéfico para o Brasil, de fato estamos bem vistos no cenário mundial, pois temos um grande colchão que nos ajudou a minimizar os efeitos da crise financeira mundial e nos revelou como um país praticante de uma política macroeconômica consistente e extremamente eficiente. Reservas internacionais nada mais são do que os depósitos em moeda estrangeira dos bancos centrais. São os ativos destes e mantidos em diferentes reservas, como o dólar estadunidense, euro e todas as moedas que o país transaciona, são utilizados no cumprimento dos seus compromissos financeiros, como a emissão de moeda e a garantia das diversas reservas bancárias mantidas num banco central por governos ou instituições financeiras. No Brasil, as reservas internacionais funcionaram como um seguro contra a crise o que ajudou a melhorar a imagem do Brasil no mercado internacional com relação à estabilidade e solvência da economia nacional. O resultado disso foi a adoção de diversas medidas para garantir o crédito doméstico ao sistema financeiro do país e conseqüentemente a sua liquidez. Mas o fato é, custa caro para o Brasil manter as reservas internacionais, isso por que:


- Temos a conta corrente resultante das importações, exportações, investimentos unilaterais, investimentos diretos, serviços, remessas, podendo ser superavitária, ou deficitária, supondo que tenhamos um superávit comercial, isto é recebemos mais moedas internacionais conversíveis do que compramos. Esse resultado positivo enviamos para as nossas reservas internacionais, que se resumem a compra de T-Bonds (títulos do governo norte-americano, onde está a maioria da reserva) e depósitos junto ao BIS (Bank for Internacional Settlements – Banco Suíço localizado na Basiléia), isso nos rende ao todo juros em torno de 6% a.a., considerando que atingimos a marca histórica de mais de US$ 230 bi, isso nos renderá cerca de US$ 13 bi a.a. no mercado internacional. Superávit é quando a demanda por moeda nacional excede a sua oferta.


E é ai que está o ponto de desequilíbrio macroeconômico que poucos entendem, nós temos hoje uma divida publica mobiliaria interna de aproximadamente R$ 1,3 tri, que podemos considerar como o pior mal da estratégia macroeconômica que adotamos desde a estruturação do plano Real, isto por que, o plano Real possui 3 bases significativas de sustentação, que são: juros, produção e cambio, ou seja as próprias bases são favoráveis ao aumento descontinuado e colossal desta divida. Veja: - O governo possui as chamadas necessidades de financiamento “NFSP” (Pagamos a conta operacional...superávit primário – 3,3% do PIB, mas só parte da conta financeira, por tanto possuímos um déficit nominal – 4,2% do PIB), que são grandes ainda que decrescentes e temos também a apreciação do cambio ocasionada pela maior entrada de capital estrangeiro resultante de uma estabilidade macroeconômica recente, grande parte decorrente da atratividade dos títulos públicos federais, causando um aumentando da dívida mobiliária interna, isso por que os juros no Brasil mesmo que no seu menor patamar histórico é alto com relação a outras economias mais solidas, nós somos reféns de uma taxa de juros alta. Levando em conta que a maior parte da dívida está em LFT, título indexado a SELIC, hoje em 8,75% a.a. o governo paga algo próximo de R$ 40 bi a.a. só em juros, com um custo fiscal de aproximadamente R$ 30 bi a.a., supondo que apenas 50% da divida fosse em LFT. Então, o governo paga para manter as reservas internacionais coisa próxima de R$ 30 bi a.a. sendo que a tendência é de crescimento constante da divida, pois além do alto custo para os cofres públicos em manter as reservas no patamar atual, há um impacto importante sobre a taxa de câmbio: o real se mantém valorizado, o país fica aberto à entrada de mais capitais externos e a apreciações adicionais da moeda nacional, aumentando a divida; no entanto isso é bom por um lado, pois conseguimos manter a moeda nacional forte, a estrangeira fraca mantendo nossa capacidade de importação e manutenção da oferta agregada.

Não se tem ao certo uma medida para as reservas internacionais, alguns economistas dizem que o valor ótimo para as reservas é de US$60 bilhões, no entanto é preciso lembrar um pouco do passado. As maiores lições das crises econômicas da década de 90 foi a necessidade de reservas elevadas, ainda mais para países que têm muitas exportações de commodities, como é o caso de Brasil e Rússia. Na verdade não deixa de ser um seguro que o país compra e ele tem um preço. Porém há necessidade na calibragem das reservas e outros ajustes, como na Taxa SELIC, que baliza a remuneração dos papéis emitidos. Neste caso, se há depreciação cambial, é preciso criar as condições para baixar os juros e para isso, é necessária uma política fiscal mais conservadora.

Conclusão:


Há três custos importantes ao se acumular reservas. O primeiro é o aumento da dívida pública pela apreciação cambial, seguido pela despesa do governo ao arcar com a diferença entre os altos juros que paga ao emitir títulos públicos e os papéis americanos (que oferecem remuneração de só 0,25% ao ano e são o principal depósito nas reservas).

O Brasil é um país que usa o regime de câmbio flutuante e, no entanto precisa de reservas um pouco mais altas do que outros que adotem o mesmo sistema, porque depende das exportações de commodities, portanto, fica ao sabor das cotações internacionais.

Por: Rafael Basile