07/09/2010

E nos oito anos de FHC!


Fernando Henrique Cardoso é viúvo, carioca nascido em 18 de junho de 1931 (79 anos), formado em sociologia pela Universidade de São Paulo, onde também é professor emérito. Foi por oito anos Presidente da República e neste texto veremos o que mudou desde o dia 1 de janeiro de 1995 até 31 de dezembro de 2002, último dia de seu mandato.
FHC como é conhecido, iniciou sua trajetória na vida pública em 1978, candidato ao senado foi derrotado pelo então companheiro de MDB André Franco Montoro. Sete anos mais tarde em 1985 FHC novamente fora derrotado, desta vez já concorrendo pelo PMDB, quando perderá a prefeitura de São Paulo para o emblemático Janio Quadros, derrota esta que ficou marcada pelo gesto de FHC que se sentou a cadeira de Prefeito antes do resultado da votação. Fernando Henrique já senador foi reeleito em 1986 com recorde de votação, assumindo uma posição de liderança dentro do PMDB junto com Mario Covas, os dois políticos que dois anos mais tarde ajudaram a fundar o PSDB. FHC além de senador por São Paulo foi Ministro das Relações exteriores no governo Itamar, quando ocupou um papel de grande destaque no cenário internacional, posteriormente foi Ministro da fazenda do mesmo governo Itamar, quando na fomentação do minucioso, necessário e salvador Plano Real (tema já tratado brilhantemente pelo meu amigo Nilton aqui no blog) reuniu uma equipe econômica de renome, formada por Persio Arida, Pedro Malan, André Lara Resende, Gustavo Franco, Edmar Bacha, entre outros não menos importantes, no entanto o principal deles, Rubens Ricupero que foi durante seis meses Ministro da Fazenda do governo Itamar em 1994 renunciou ao cargo após o famoso escândalo da parabólica.
Devido ao grande sucesso do Plano Real, FHC, junto de seu vice Marco Maciel (PFL) se elegeu Presidente da República no primeiro turno nas eleições de 1994. No seu primeiro governo, foi aprovada a emenda constitucional que permitia a reeleição para cargos executivos, como, por exemplo, o cargo de Presidente da República. Uma forte denuncia de corrupção, marcou esse episódio, o governo foi acusado na época da compra de votos de parlamentares para a aprovação de tal emenda.
Fernando Henrique Cardoso se reelegeu Presidente da República em 1998 também no primeiro turno, novamente acompanhado por Marco Maciel e pela segunda vez derrotando o então candidato do PT e atual Presidente Lula.
O Segundo mandato de FHC ficou fortemente marcado pelas inúmeras privatizações, sendo a principal delas a da Companhia Vale do Rio Doce e também pelas crises internacionais como a crise asiática em 97-98, a crise russa em 98-99, a argentina em 2001 e além destas, a grande crise ocasionada pela maquiagem nos balanços patrimoniais de empresas americanas, como a Enron.

O Governo de Fernando Henrique é visto como o governo que deu a base para a estabilidade macroeconomia brasileira que se seguiu com mais força com Lula e podemos mensurar isto quando interpretamos alguns números e fatos importantes deste período, como o forte incentivo dado ao capital especulativo estrangeiro, que apesar de ser um capital de curto prazo, o chamado Hot-money, deu equilíbrio a nossa balança de pagamentos, pois inundou o país de dólares, permitindo que o Real se tornasse mais forte diante da moeda estrangeira, no entanto é claro que em momentos de crises internacionais, ou qualquer incerteza perante o Brasil, ocorria a fuga destes capitais externos. Quando isto ocorria o governo era obrigado a se assegurar pedindo auxilio ao FMI, o que era necessário, porém não desastroso, pois veja que com o passar dos anos a economia nacional foi ganhando musculatura, o mercado internacional ganhando confiança no Brasil e a fuga de capitais já não era mais um problema monstruoso para o país (vide isto na crise dos sub-primes, quando batemos o recorde de acumulo de Reservas Internacionais). Fernando Henrique Cardoso assumiu um país quebrado, com uma hiper-inflação na casa dos 900% a.a, não fossem as medidas perante a estabilização do Real e jamais teríamos capacidade de controlar esta hiper-inflação. Em seu governo também ocorreu a renegociação da divida externa brasileira, promovida pelo FMI, que teve inicio em 1993 ainda no governo Itamar, mas que tomou forma nos anos que se seguiram. O então Plano Brady trocou o perfil da divida, que era absolutamente impagável, por um perfil aceitável, o que levou o país de volta ao Mercado Financeiro internacional, podendo negociar, por exemplo, o Global 40, o principal título brasileiro que mede o Risco País e é negociado na Bolsa de Nova Iorque. No seu governo pudemos observar também a criação da importante Lei de Responsabilidade Fiscal, que impôs limites aos Estados e Municípios com relação aos gastos públicos. Outro fato extremamente importante (também já comentado aqui no Blog) foi a implementação do PROER e do PROES, que foram os programas de salvamento do Sistema Financeiro Nacional, o PROER para os Bancos Privados e o PROES para os Bancos Públicos.

Vamos ver agora alguns indicadores econômicos do governo FHC:
- Salário Mínimo – R$ 70,00 para R$ 200,00, uma elevação de 186% no valor nominal;
- PIB – A taxa média de crescimento era de 2,43% a.a. muito superior aos governos anteriores que em algumas oportunidades fizeram o PIB encolher;
- Inflação – Dos assombrosos 916,43% do inicio do governo, já no primeiro ano baixando para 22,41% e no último ano de mandato deixando em 12,53%, com um taxa média de 9,1% nos oito anos de governo (todas as taxas anualizadas e medidas pelo IPCA);
- Desemprego – Iniciou em 5,1%, caindo no primeiro ano para 4,6% e chegando ao último ano de governo em 7,1% (taxas anualizadas);
- SELIC – Abriu 95 em 53,25% e fechou o ano em 41,25%, em 2002 estava em 25% (taxas anualizadas), como a inflação também caiu neste período, os juros reais da economia se tornaram menores, o que permitiu um aumento na oferta de crédito, possibilitando o aumento do consumo pelas famílias.
- Carga Tributária – Fechou 94 em 28,6%, chegou a 28,9% em 95 e fechou 2002 em 35,8% (em relação ao PIB);
- Balança Comercial – O volume de exportações em geral superou o de importações, o que tornou a balança por muitas vezes superavitária. Em 94 o volume registrado de exportações era de 43,5 enquanto as importações eram 33,1, no ano seguinte 46,5 eram as exportações enquanto as importações eram 50 (ano em que a balança ficou deficitária) no último ano de governo o volume de exportações chegou a 60,4 e as importações 47,2, maior superávit atingido em todo o governo FHC. (Volume em bilhões de dólares);
Esses são apenas alguns indicadores do governo, que mostram se bem interpretados que o governo FHC ajustou a economia, por exemplo, olhando a inflação e a SELIC que reduziram abruptamente seus percentuais, como dito acima com isto reduziram os juros reais da economia. Ou ainda a balança comercial que quando superavitária permitiu a maior entrada de divisas no país, o que engordou nossas reservas internacionais, que funciona como uma espécie de seguro em momentos de crise quando bem dosada (tema também já tratado aqui no blog anteriormente).

Concluo dizendo que o governo FHC teve seus pontos positivos e negativos, que no final resultaram em um grande governo, trazendo de volta a confiança e auto-estima do povo brasileiro, podendo ser até classificado como salvador na ocasião em que vivíamos do inicio até a metade dos anos 90, um governo que nos pôs novamente no trilho correto do crescimento e desenvolvimento econômico. Ouso dizer que se não fossem as medidas do governo FHC e hoje estaríamos “batendo lata” nas ruas como ocorrem com nossos vizinhos sul-americanos.

Não deixem de nos acompanhar e até a próxima.
Dúvidas e sugestões não hesitem em nós enviar.

Por: Rafael Basile

15/07/2010

Oito anos de governo LULA



Após três tentativas mal sucedidas de assumir a presidência do país, 
Luis Inácio Lula da Silva assume o mais alto nível do poder executivo no dia 1º de Janeiro de 2003. Desde então, o que mudou?

Nas ultimas semanas uma pesquisa do Datafolha mostrou que o governo obteve 78% de aprovação dos populares, batendo mais um recorde; sendo que no nordeste este nível chega a 87%. Vamos analisar os principais feitos do governo Lula e entender se esta aprovação merece índices tão altos.

Após oito anos de FHC, Lula chega ao governo tendo que combater o grande temor do mercado externo, este temia mudanças bruscas na economia do país o que poderia afetar seus investimentos.
No dia da posse de Lula o dólar se aproximava dos $ 4,00 e o risco-país estava em torno dos 2.400 pontos, a taxa SELIC estava em 25% e diante deste cenário o governo entrou em ação com medidas que hoje podemos afirmar bem sucedidas.
Lula convocou para presidência do Banco Central o Deputado Estadual eleito pelo PSDB de Goiás Henrique Meirelles, o mercado recebeu bem esta decisão, Meirelles é bem conhecido no cenário internacional, ele foi gerente financeiro do Bank Boston. Com esta decisão Lula mostrou ao mercado que as mudanças bruscas no rumo da economia não aconteceriam.

Ao assumir o governo Lula viu diante de si uma inflação (IPCA) de dois dígitos, cerca de 12,5%. Nos sete primeiros anos de governo Lula, a inflação se manteve dentro da meta estabelecida com exceção de 2003 quando não conseguiu ficar dentro da meta de 8,5% estabelecida pelo BC, chegando a 9,30%, mas houve avanço se compararmos aos 12,5% do ano anterior. Em 2006 atingimos a menor taxa de inflação desde a implantação do regime metas em 1999, esta ficando em 3,14%. Hoje a inflação esta controlada dentro das metas estipuladas pelo BC.

O nível de emprego no país também obteve grande avanço nesses oito anos de governo, o Brasil chegou à menor taxa de desemprego desde 2002, chegando a maio de 2010 em 7,3%, menor taxa desde então. Grande parte da população pobre migrou para classe média, isto devido à geração de empregos, aumento dos salários e a distribuição do crédito, que impulsionaram a economia nesses oito anos. O salário mínimo teve um aumento de 155%, saindo de R$ 200,00 para R$ 510,00.

Podemos afirmar que houve avanço do emprego, sem duvida, mas empregos de qualidade não foram nem estão sendo gerados, mesmo ampliando nossa visão para governos anteriores podemos constatar que nesse aspecto pouca coisa mudou. O problema esta na mão de obra. Falta mão de obra qualificada e isso só será revertido no futuro, isso se as bases de educação forem mudadas agora, do contrário o cenário continuará o mesmo e pode ficar pior.

Os avanços no PIB também foram significativos, a média de crescimento entre 2002 e 2009 é de 3,55% ao ano, no governo anterior (FHC) entre 1994 e 2001 essa média ficou em 2,25% ao ano.  O primeiro trimestre de 2010 registrou crescimento de 2,7% do PIB, Em relação aos três primeiros meses de 2009, a expansão foi de 9%.

Estes foram alguns dos muitos avanços na economia, porém muita coisa ainda precisa ser feita, principalmente agora que o país vai sediar grandes eventos internacionais (Copa do Mundo e Olimpíadas), precisamos olhar um pouco mais para dentro, o Brasil enfrenta muitos problemas de infra-estrutura, somos decadentes na área de aeroportos, portos, estradas, hospedagens, etc. Todas estas áreas citadas são vitais para que um país obtenha sucesso ao sediar grandes eventos internacionais, já recebemos a Formula 1 todos os anos, mas isso não é nada se comparado a uma copa do mundo ou uma olimpíada.



O cenário internacional é muito valorizado pelo nosso governo, é só olhar para nossa taxa de juros para entender este fato, os juros reais do Brasil são um dos maiores do mundo, isso atrai investimentos internacionais visando grandes taxas de retorno. Porém nos próximos o nível da taxa de juros deve cair para impulsionar o desenvolvimento interno. Seria interessante, e acreditamos que isso ocorra, se os investimentos privados aumentassem na área de infra-estrutura, o governo precisa de apoio privado para construção de vias de transporte, já se fala em concessão de aeroportos para iniciativa privada, o que já é um avanço. Em São Paulo a linha 4 do metrô (amarela) já esta operando no nível de concessão a iniciativa privada. Se a iniciativa privada não se interessar por esse tipo de investimento, os gastos do governo nos próximos anos serão muito altos. Naturalmente os gastos irão subir, mas o apoio da iniciativa privada é fundamental.

2010, ano de eleição, os principais candidatos, Serra e Dilma, não se atrevem a mudar muito o discurso para falar em mudar o que já vem sendo feito por Lula, principalmente na economia; com Dilma ou mesmo com Serra esperamos que algum PAC seja finalmente realizado, os PAC’s, ou seja, lá qual nome vão dar aos programas de infra-estrutura  precisam ser feitos, o prazo é curto. Os investimentos feitos em infra-estrutura no governo LULA foram muitos baixos. A taxa de investimento em infra-estrutura com relação ao PIB é de apenas 0,6%.

Do Próximo governo esperamos mudanças significativas na educação, temos que olhar para o futuro, sobram pessoas, falta educação de qualidade.

Por: Economia sem Mito

23/06/2010

Crise Européia: Grécia


A Europa está cada vez mais afundada na crise, que tem como protagonistas os tão comentados Piigs (Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha), grandes alavancas desta tragédia. O fato é, entraram em crise por que gastaram em demasia, digamos que eles exerceram um keynesianismo exagerado. A Grécia, centro da crise, por exemplo, possui um dos Estados mais participativos na economia entre os países europeus. O governo é detentor de cassinos, hotéis, petroleiras e seguradoras. Até antes do estouro da crise o governo grego possuía US$ 12 bi em ações na bolsa de Atenas, um exagero quando se trata da participação do Estado na economia.
Com a decisão em 1998 da utilização do Euro como moeda única para alguns países membros da Comunidade Econômica Européia (CEE), algumas exigências foram estabelecidas para que um país pudesse utilizar a nova moeda como moeda oficial. Tais regras previam entre outras exigências, a estabilidade da inflação e da taxa de juros de longo prazo, que não deviam ultrapassar em mais de 1,5% e 2% a.a, respectivamente, com relação a média dos três países com melhores resultados olhando sempre para a estabilidade de preços entre os países-membros. Vale lembrar que com a onda de aperto econômico imposta pelo governo grego, a inflação disparou em maio deste ano para 5,4% a.a. na Grécia, em 2008 a inflação havia fechado em 2,6%. Outra importante imposição foi à política de controle no déficit orçamentário, exigia-se que um país-membro não excedesse mais que 3% de seu PIB com déficit público, a Grécia chegou a incríveis 12,7%, gastando 51,3% do PIB e mantendo suas receitas em 38,7%. Exigia-se também que não tornasse a divida pública maior que 60% com relação ao PIB, a Grécia não só mais do que dobrou essa marca, chegando a 125%, como teve o rebaixamento de sua divida em quatro níveis pela Moddy´s, uma das principais agencias de classificação de risco. Podemos associar a crise a uma série de fatores, mas o principal deles é justamente este, o governo gastou demais, cobrou muitos impostos e deu muitos benefícios à população, o que desestimulou a atividade empreendedora e tornou o povo acomodado, ou seja o povo fica bem sem trabalhar, pois sabe que o beneficio estará lá.
 
O plano de ajuda à Grécia que prevê nos próximos três anos a quantia de 110 bi de euros, incluindo a participação de países da zona do euro e do FMI, esta ajuda deve sanar em partes a dívida grega e evitar um calote, mas as coisas na Grécia precisam mudar, enquanto não houver corte de gastos, aumento na taxa de juros, redução nos benefícios a população, incentivando-a ao trabalho, redução nos salários de funcionários públicos, um forte programa de privatizações, será apenas uma questão de tempo para que uma nova crise de crédito, como a que ocorreu em 2009 volte a assolar o planeta.
  Por: Economia sem Mito

19/05/2010

As Privatizações no Brasil


Quando o processo de administração das empresas públicas não é bom e o próprio governo reconhece essa ineficiência é estudada a possibilidade de repasse deste poder de administração para o setor privado.


As empresas privadas possuem administração, na maioria dos casos, competente com foco em resultados como crescimento, geração de lucro e emprego; muitas vezes o setor público perde esse foco, ou mesmo não o tem, deixando sua administração ser levada sem rumo nem objetivo algum, baseada na troca de favores políticos.  Na maioria dos casos a relação “Urna x Administração pública” é muito forte.



São inúmeros os casos nos quais candidatos oferecem cargos de destaque em empresas públicas ou mesmo em seus gabinetes em troca de votos ou apoio em suas campanhas eleitorais.
Muitas pessoas criticam o processo de privatização das empresas públicas por defenderem a participação do estado nas grandes empresas, mas estes se esquecem da ineficiência da administração pública.


No Brasil podemos sentir muitos efeitos do processo de privatização que seu deu nos últimos vinte anos; a partir de 1990 mais de cem empresas e concessionárias de serviços públicos tiveram seus controles vendidos ao setor privado.
O governo ainda é um dos maiores beneficiados pelo processo de privatização, nos últimos anos a arrecadação de impostos vem batendo recordes. Empresas que antes sufocavam as contas do governo com seus déficits, hoje geram lucro e pagam impostos, estes superam seu faturamento em época de administração pública.


Um exemplo disso é a Vale do Rio Doce, antes de sua privatização em 6 de Maio de 1997, a empresa sofria sem recursos para se modernizar e com balanços deficitários sucessivos. Com a privatização a Vale passou a não ter a obrigação de repassar seus ganhos para a União, sendo assim esses recursos podem ser investidos na própria empresa, e isso aumenta a sua competitividade no mercado. A política de controle acionário proporciona a escolha de profissionais mais competentes no mercado para administrar a empresa. Hoje o governo arrecada mais com impostos pagos pela Vale do que quando obtinha o seu controle.


Uma grande parcela da população sente os efeitos bons do processo de privatização das empresas publicas. Um dos efeitos que posso destacar é o da telefonia, antes da privatização do sistema Telebrás (composto por 27 empresas de telefonia fixa e 26 de telefonia celular) uma linha telefônica chegava a custar R$ 8.000,00 e sua instalação demorava cinco anos, em 1998 quando as empresas privadas entraram no mercado o Brasil possuía 22 milhões de linhas telefônicas com serviço precário e custos altos.


Com a entrada de novas empresas no mercado de telefonia o efeito “telefone para todos” começou a surgir; até o fim de 2005, 125,7 milhões de aparelhos já estavam em atividade entre celulares e fixos. O custo foi sistematicamente reduzido e a instalação se tornou quase que instantânea. Um dos problemas gerados com a privatização foi o monopólio que surgiu, sobretudo no estado de São Paulo.
No longo prazo foram gerados milhares de empregos, haja vista o boom de uma categoria chamada telemarketing.


Mas a participação do governo nos setores vendidos não acabou; com as privatizações foram criadas as agências reguladoras, Elas são departamentos autônomos que criam regras e fiscalizam o funcionamento das concessionárias. Atualmente, são mais de vinte, sendo oito federais. Entre elas estão a Anatel, que cuida da telefonia, a Aneel, responsável pela energia elétrica, ANP, que trata de petróleo e a ANAC que cuida da aviação civil.


O setor financeiro foi muito beneficiado pelas privatizações, muitos eram os bancos públicos estatais, que tinham seu controle administrado por prefeitos e governadores, isso favorecia a corrupção, pois os estados se financiavam não dependiam do mercado nem mesmo da união para garantir o andamento de suas “obras”. Dentre os bancos estatais privatizados podemos destacar o Banespa - Banco do Estado de São Paulo, vendido ao espanhol Santander no ano 2000, um marco no setor financeiro do país, que determinou a maior ofensiva do banco espanhol no Brasil.

Concorrentes do espanhol os brasileiros Itaú e Bradesco na época afirmavam que arrematar o Banespa no leilão do dia 20 de Novembro de 2000 era uma questão de honra, mas no final estes não conseguiram superar a oferta de R$ 7,050 bilhões  que o espanhol fez ao governo brasileiro, esta ação culminou na entrada do concorrente espanhol no mercado paulista com  força, a população se beneficiou com o aumento da concorrência e com o aumento do leque de opções na hora de escolher um banco para abrir conta.


Muitos foram os servidores públicos que saíram as ruas para protestar na defesa da manutenção de seus empregos. Mas depois o Santander imprimiu novos rumos à administração do banco.
Hoje temos um setor financeiro mais regulado e hígido.
Fazendo um balanço, olhando as mudanças proporcionadas pelo processo de privatização, hoje temos um país que cresce sistematicamente com uma economia saudável, ainda estamos longe de sermos considerados um país de primeiro mundo, mas as medidas que foram tomadas e estão sendo mantidas e aperfeiçoadas estão nos levando para mais perto deste patamar.

Por: Nilton Nascimento

12/05/2010

PROER, um bem para os bancos, ou para os banqueiros?


Sempre que se fala em PROER, certa dúvida sobre a necessidade de ter realizado o programa, ou não, paira sobre as cabeças esquerdistas que até outrora eram apoiadas pelo PT e principalmente pelo então presidente Lula. O PROER, muito atacado pelo atual presidente nos seus tempos de oposicionista, ganhou notórios e rasgados elogios em meio à crise financeira global de 2008, não só pelos então ex-esquerdistas do PT, como pelo mundo todo.
Não fosse o PROER e nós teríamos afundado já naquela época no nascimento do Real. Após longos e tenebrosos anos de hiperinflação, os bancos aproveitavam esta instabilidade econômica para desviar recursos, apenas os seis maiores bancos privados do País embolsaram em 1993, o equivalente a R$ 5,1 bilhões à custa da inflação, ou seja, a inflação era tão alta que qualquer valor era rapidamente “comido” pela desvalorização da moeda. Para se ter uma idéia em 2009 o ganho foi 99,31% menor do que esse valor. Quando veio a estabilização muitos bancos entraram em dificuldades e muitos em dificuldades graves, com seus balanços fraudados.
Muitos devem estar se perguntando: Então se os bancos praticaram atividades criminosas em suas operações, por que fazer um programa de salvamento bancário?
Veja! É necessário que se façam algumas analises:
1º A resposta já está na pergunta. O PROER foi um plano de salvamento bancário e não banqueiro!
2º Não fosse isso, teríamos entrado em um colapso financeiro generalizado com a falência de muitos bancos e a deterioração de grande parte da poupança dos brasileiros, o que geraria uma crise sistêmica com a queda brusca da demanda agregada e queda vertiginosa nos preços dos produtos, o que paralisaria a produção interna.
3º Ao contrário do que foi feito no salvamento do sistema financeiro mundial nessa última crise, onde os governos transferiram dinheiro diretamente para os bancos sem punir os banqueiros, no Brasil que antes se dava dinheiro do tesouro para o banqueiro se safar, isso não ocorreu, pois o banqueiro vendeu o banco, caso do Bamerindus, propriedade da família Andrade Vieira, que mais tarde seria incorporado parte pelo HSBC e parte pelo BACEN, os bens foram penhorados e o banqueiro processado. 
4º O Banqueiro não iria utilizar o dinheiro do tesouro, mas sim do BACEN, ou seja, do próprio sistema bancário até que a situação se normalizasse.
5º É obvio que se tiveram perdas no Tesouro Nacional, mas coisa de 1%, 2,5% do PIB, enquanto normalmente ocorrem 7, 10, 15% do PIB.
Outro ponto não menos importante a se ressaltar nesta discussão, porém pouco comentado, por falta de conhecimento e de interesse político, pois envolveu diretamente os bancos públicos, é que o PROER foi importante, mas até mais efetivo do que o próprio PROER foi o PROES.
PROES é o correspondente do PROER nos bancos públicos que estavam em pior situação que os bancos privados.
Os bancos dos estados estavam falidos, os governos de muitos estados tomavam empréstimos aos bancos e não pagavam, funcionava como um caixa 2 veja o caso do BANESPA, que ainda durou até 2000, após ser adquirido pelo gigante espanhol Santander. O PROES teve mais efeito do que o PROER. Palavras do próprio presidente na época FHC confirmam esse fato:
“A Caixa Econômica estava paralisada, pois os estados e municípios não pagavam a Caixa e como a inflação era alta, todos foram perdendo o controle. Houve um, ou dois anos que não foi possível publicar o balanço patrimonial da Caixa, por que era negativo. A Caixa não tinha dinheiro para emprestar.” FHC em entrevista a revista Veja.
O governo tomou medidas eficientes para solucionar o problema da Caixa, que hoje é referência quando se trata de financiamentos imobiliários e recebimento de benefícios em geral. São elas:
 • Foram fechadas agencias que não tinham sentido, agencias abertas em demasia;
• Foi extinto o controle dos estados;
• Foi criado um escritório de negócios, o que gerou insatisfação de muitos deputados, que tinham influência e favoreciam empréstimos,
Ou seja, a Caixa virou uma empresa.
Outro caso é o Banco do Brasil, a dívida agrária do BB era de mais de 20 bi USD, nesta época a divida externa era de 40, metade da divida. Isso se deu, pois os agricultores só se financiavam no Banco do Brasil e todo ano se rolava a divida, se renegociava a divida rural, com isso o BB não recebia. O governo FHC chegou a transferir 7 Bi de reais que equivaliam a 7 Bi de USD na época, para salvar o BB. A solução de tal problema só começou a se dar quando no mesmo governo foi criada a Cédula do Produtor Rural que permitia que ao invés dos produtores se financiassem no Banco do Brasil, se financiassem no mercado. Uma curiosidade é que nesse mesmo período criou-se também o PRONAF, financiamento da agricultura familiar, pois até então só havia financiamento para grandes agricultores, através do Banco do Brasil.
Se for possível responder a pergunta do início do texto com outra;
Será mesmo que o PROER foi algo que recompensou a irresponsabilidade dos banqueiros, ou salvou o sistema financeiro brasileiro?
Por: Rafael Basile

22/04/2010

O Swap Cambial


Quando o BACEN anuncia que irá entrar no mercado de cambio para comprar dólares, ou vender dólares a fim de equilibrar um pouco o preço da moeda americana; muitas pessoas não imaginam por meio de qual mecanismo o governo se faz presente nesse mercado.
O fato é que toda vez que aparece um problema na economia que seja anormal, ou insolúvel somente com as ferramentas existentes no mercado, tal problema é considerado como uma falha de mercado. O câmbio nada mais é do que uma falha de mercado da qual o governo, responsável pela estabilidade macroeconômica do país, se incube de resolver. Essa é a chamada função estabilizadora da economia da qual se ocupa o governo federal.






Para entendermos resumidamente como o BACEN age na intervenção do cambio, imaginemos dois cenários:


1)     Se o dólar estiver em perspectiva de alta:
Imaginemos que exista uma perspectiva de alta para o próximo período com relação ao dólar, o que prejudicaria as importações, o BACEN então sente a necessidade de intervir para tirar pressão do cambio futuro evitando a compra no mercado à vista e assim garantindo a oferta de produtos importados. O BACEN coloca no mercado seus contratos de Swap Cambial por meio de um leilão, os quais serão comprados pelas instituições financeiras. Isso equivale à venda de dólar no mercado futuro, pois com esses contratos o BACEN paga a instituição a variação cambial e a instituição por sua vez paga ao BACEN uma taxa de juros (SELIC + percentual). Esses contratos são interessantes para quem possui compromissos em dólar e receitas em reais, ou seja, empresas importadoras. Desta forma o importador fica seguro contra a variação cambial fazendo o chamado Hedge.


2)     Se o dólar estiver em perspectiva de baixa:
Imaginemos agora que a moeda americana esteja caminhando para uma baixa no período seguinte, o que prejudicaria desta vez as exportações, o BACEN sentindo a necessidade de intervir a fim de segurar o preço do dólar em patamares que garantam aos exportadores um preço mais favorável, leiloa no mercado contratos de swap cambial reverso. Reverso, pois desta forma é o BACEN que se incube do pagamento da taxa de juros e assim sendo recebe a variação cambial do período. Esse mecanismo equivale à compra de dólar no mercado futuro, por isso a moeda americana sobe quando o BACEN faz o leilão. Esse tipo de negociação é interessante para os exportadores que possuem suas receitas em dólar e seus compromissos em real, sendo necessária uma conversão da moeda para pagar os fatores de produção. O BACEN por sua vez evita a inundação de dólar no mercado.
No Brasil utilizamos os contratos de Swap cambial em momentos de crise, pois são nesses momentos que há mais fuga de dólar, quando investidores do mundo inteiro estão recompondo suas perdas com recursos aplicados em países de mercado emergente. A falta de dólar encarece a moeda americana o que obriga o BACEN muitas vezes a intervir no mercado de câmbio. A diferença entre o que o BACEN paga pelos contratos e o que ele recebe, é paga pelo tesouro nacional nas chamadas NFSP (necessidades de financiamento do setor público), isso gera um aumento da dívida. Em momentos de pré e pós-crise, quando a tendência é de haver mais dólares no mercado do que durante uma crise, o BACEN se utiliza do Swap cambial reverso para segurar o preço do dólar.

Por: Rafael Basile


O Plano Real



O Brasil necessitava de um novo plano para salvar sua economia, não poderíamos prosseguir com uma inflação desajustada aos mesmos níveis dos anos 80.
O Presidente Itamar Franco reuniu pessoas capazes de elaborar uma saída para a economia do país, foram eles, Fernando Henrique Cardoso, sociólogo e Ministro da Fazenda, juntamente com os economistas: Persio Arida, André Lara Resende, Gustavo Franco, Pedro Malan e Edmar Bacha.

Estes tinham uma difícil missão a cumprir; elaborar um plano econômico que acabasse com a pressão dos preços sem congelamento dos mesmos e diminuir a liquidez na economia, sem bloquear poupanças como no plano anterior.
Árida teve a idéia, então FHC logo pensou em colocá-la em prática.


No vídeo abaixo o ex presidente fala um pouco sobre o plano:


O Plano Real era tido como um plano tecnicamente bem feito, mas alguns economistas temiam que o governo falhasse na execução; o que era muito comum em políticas de estabilização, onde não se errava no plano e sim na execução.
A execução do plano englobava principalmente Política fiscal e Monetária, essas duas deveriam ser e foram infalíveis para o sucesso do mesmo.

O Plano Real foi um marco na economia brasileira e mundial, bateu recorde no tempo de planejamento e colocação da nova moeda em circulação. Essas operações ocorreram em apenas 8 meses.

Após a saída de FHC do ministério para concorrer às eleições presidenciais de 1994, Rubens Ricupero assumiu o posto de Ministro da Fazenda e deu continuidade ao plano.
Ricupero teve grande participação no plano, cuidou de sua execução de uma forma exemplar, sendo mais tarde reconhecido pelo próprio FHC como uma das pessoas mais importantes para que o plano obtivesse êxito.

“Aqui jaz a moeda que acumulou, de julho de 1965 a junho de 1994, uma inflação de 1,1 quatrilhão por cento. Sim, inflação de 16 dígitos, em três décadas. Ou precisamente, um IGP-DI de 1.142.332.741.811.850%. Dá para decorar? Perdemos a noção disso porque realizamos quatro reformas monetárias no período e em cada uma delas deletamos três dígitos da moeda nacional. Um descarte de 12 dígitos no período. Caso único no mundo, desde a hiperinflação alemã dos anos 1920.”           
                                                                                            Joelmir Beting

Após o escândalo da Parabólica Ricupero deixou o ministério, sendo substituído por Ciro Gomes em Setembro de 1994. Ciro não teve participação nenhuma no Plano Real.
A população teve de se adaptar muito rápido às mudanças impostas pelo Governo, antes da introdução oficial do Real em 01/07/1994 as pessoas se viram usando até três moedas diferentes (Cruzeiro real, URV e Real). Era comum ir à feira e ver placas com preços marcados em vários tipos de moeda.


Segundo jornais e revistas da época cobradores de ônibus receberam treinamento de ultima hora para calcular preço de passagens e troco. Muitas pessoas tinham contato com a nova moeda nas próprias catracas dos ônibus. Outros recebiam a nova moeda e não conseguiam gastar, alegavam que aquilo só seria dinheiro em no mínimo 20 dias.

O Plano Real enfrentou algumas crises, a primeira foi a do México em 1995; entre 1997 e 1998 cerca de 400 instituições financeiras quebraram, mas por mais espantoso que seja este cenário já era esperado, pois estas instituições não se prepararam para um ambiente sem inflação crônica.
Hoje em dia temos um sistema bancário considerado intacto, passamos quase que ilesos à crise do SUBPRIME. Outro fator que colaborou para a segurança dos bancos foi a criação do PROER (Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional) em 1995, este plano dá pode ao Banco Central para intervir no caso de falência da instituição.

Mas a crise do México manchava a imagem dos demais países emergentes, então investidores viam o Brasil com certa desconfiança, o que levou o Banco Central a elevar sua taxa de juros (SELIC) para tentar manter o capital estrangeiro. Em 1998 veio a crise da Ásia e em 1999 a crise da Rússia, com isso a SELIC alcançou o nível de 45% em março de 1999. Em Janeiro do mesmo ano o País abandonou o regime de câmbio fixo, desde então Brasil adota o regime de câmbio flutuante (o preço do US$ é determinado pelo mercado). Depois vieram as crises do Apagão e das Torres Gêmeas em 2001, refletindo nas bolsas de valores em todo o mundo e no Brasil vivíamos a crise do apagão. O governo continuou com as mesmas medidas e mesmo assim o Brasil foi muito afetado. Nas eleições de 2002 o PT colocou em evidência as crises sofridas pelo governo FHC, colocando em xeque a candidatura do Tucano José Serra. As decisões tomadas em 1999 e adiante foram muito importantes para a estabilidade do plano ao longo desses anos. Após a saída de FHC da presidência, Lula reuniu pessoas capazes de conduzir a Economia de uma forma que podemos afirmar que o Plano Real foi aprimorado nestes 7 anos de Governo.

As medidas anticíclicas tomadas durante a crise de 2008 foram essenciais para o sucesso do Brasil em meio a um cenário econômico caótico. O estimulo ao crédito e a responsabilidade de tranqüilizar a população em meio a uma crise de grandes proporções levou o país a sair da crise quase que ileso.
Acredito que estamos no rumo certo, esta moeda foi e é fundamental para o nosso desenvolvimento como Grande Economia do mundo.
Esperamos que os próximos governantes, saibam guiar nosso país de maneira que as medidas que conhecemos hoje sejam aprimoradas no futuro.

Por: Nilton Nascimento

08/04/2010

Plano Collor, um outro ponto de vista


Cresci sendo forçado a crer que o Plano Brasil Novo, mais conhecido como “Plano Collor”, foi um vilão na história do Brasil. Hoje olhando com outro ponto de vista, levantando as causas antecedentes ao plano e a situação econômica do país naquele momento, posso afirmar que o Plano Collor não foi tão vilão assim como dizem.


As intenções do Plano Brasil Novo eram as melhores possíveis, tendo em vista a situação econômica do país naquele momento, onde os índices de inflação atingiam dois dígitos ao mês, chegando a incríveis 2.000% no ano de 1989, ano este em que Collor foi eleito por voto direto, a primeira eleição celebrada desta maneira no Brasil. Conter a inflação incentivada por altos níveis de liquidez era o principal objetivo do plano. Que possuía muitas medidas racionais, tendo em vista a situação em que se encontrava a economia no período em questão. A ministra da Fazenda, Zélia Cardoso juntamente com Ibrahim Eris, então presidente do Banco Central e Antônio Kandir, idealizaram o Plano, com objetivo de conter a inflação, tendo como medidas principais: Diminuir o excesso liquidez (muito dinheiro circulando estimulava a alta dos preços); Cortar o déficit público (gastos do governo) e a Desindexação da economia (mecanismo que reajustava os preços automaticamente, acompanhando a inflação passada).



A medida que é até hoje lembrada, com muita polêmica, é a que estava dentro do plano de reduzir a liquidez, que consistia em bloquear por 18 meses os depósitos em poupança acima de NCz$ 50 mil. Tais depósitos eram corrigidos diariamente pelo “overnight*”, na época visto como alimentador da inflação. A lógica por trás desta medida era bem simples, com menos dinheiro na economia, as pessoas não gastariam, isso por sua vez reduziria o consumo. Sendo assim não haveria pressão inflacionária.
No plano também estava incluso a troca de moeda; migraríamos de Cruzados Novos (NCz$) para o Cruzeiro (Cr$) com dois propósitos: Permitir o bloqueio sem transgredir a lei, pois os recursos seriam devolvidos em moeda diferente; e marcar a mudança da política econômica.
Dias atrás quando assistia a uma entrevista do então Ministro das Comunicações, Hélio Costa, percebi que ao ser questionado sobre o ex-presidente Fernando Collor, ele o definiu como injustiçado, fiquei com isso na cabeça e fui buscar razões para ele ter dado essa resposta.


Collor foi eleito em circunstâncias duvidosas, no que diz respeito à mídia. Mas o certo é que ele foi eleito, conseguiu derrotar o atual Presidente no 2º turno das Eleições daquele ano.
O “Plano Collor” trouxe benefícios ao país, o plano previa a redução gradual das tarifas de importação, para forçar a competição. Assim, com os produtos importados mais baratos, o mercado interno seria forçado a reduzir os preços e melhorar a qualidade de seus produtos.
A desindexação estabeleceu que os contratos não poderiam mais usar a inflação para correção monetária em prazos inferiores a um ano. Com isso os salários, investimentos e contratos não poderiam ser mais reajustados automaticamente pela inflação do mês anterior. A lógica é a seguinte: ao aumentar os preços, essa indexação “carrega” para frente essa inflação passada.


O ajuste nas contas públicas englobava demissões em massa de servidores públicos, aumento de tarifas públicas e o inicio das privatizações. Isso reduziria a quantidade de dinheiro que o governo “despejava” para pagar suas próprias contas.
Olhando os objetivos do Plano, começo a entender a resposta do Ministro Hélio Costa.
Eu não tinha idade para compreender tais benefícios na época, mas hoje compreendo que Collor com medidas um tanto drásticas, mas necessárias, conseguiu deixar o terreno pronto para receber o “plano real”. Pois o plano real de 1994 foi desenhado por Collor, e ele não seria possível se tais medidas não fossem tomadas quatro anos antes. 


Por: Nilton Nascimento
                                                                                                                                                             

05/04/2010

Divida Mobiliária x Reservas Internacionais = Custo Fiscal elevado


Muitas pessoas se enganam ao observarem as reservas internacionais como algo somente benéfico para o Brasil, de fato estamos bem vistos no cenário mundial, pois temos um grande colchão que nos ajudou a minimizar os efeitos da crise financeira mundial e nos revelou como um país praticante de uma política macroeconômica consistente e extremamente eficiente. Reservas internacionais nada mais são do que os depósitos em moeda estrangeira dos bancos centrais. São os ativos destes e mantidos em diferentes reservas, como o dólar estadunidense, euro e todas as moedas que o país transaciona, são utilizados no cumprimento dos seus compromissos financeiros, como a emissão de moeda e a garantia das diversas reservas bancárias mantidas num banco central por governos ou instituições financeiras. No Brasil, as reservas internacionais funcionaram como um seguro contra a crise o que ajudou a melhorar a imagem do Brasil no mercado internacional com relação à estabilidade e solvência da economia nacional. O resultado disso foi a adoção de diversas medidas para garantir o crédito doméstico ao sistema financeiro do país e conseqüentemente a sua liquidez. Mas o fato é, custa caro para o Brasil manter as reservas internacionais, isso por que:


- Temos a conta corrente resultante das importações, exportações, investimentos unilaterais, investimentos diretos, serviços, remessas, podendo ser superavitária, ou deficitária, supondo que tenhamos um superávit comercial, isto é recebemos mais moedas internacionais conversíveis do que compramos. Esse resultado positivo enviamos para as nossas reservas internacionais, que se resumem a compra de T-Bonds (títulos do governo norte-americano, onde está a maioria da reserva) e depósitos junto ao BIS (Bank for Internacional Settlements – Banco Suíço localizado na Basiléia), isso nos rende ao todo juros em torno de 6% a.a., considerando que atingimos a marca histórica de mais de US$ 230 bi, isso nos renderá cerca de US$ 13 bi a.a. no mercado internacional. Superávit é quando a demanda por moeda nacional excede a sua oferta.


E é ai que está o ponto de desequilíbrio macroeconômico que poucos entendem, nós temos hoje uma divida publica mobiliaria interna de aproximadamente R$ 1,3 tri, que podemos considerar como o pior mal da estratégia macroeconômica que adotamos desde a estruturação do plano Real, isto por que, o plano Real possui 3 bases significativas de sustentação, que são: juros, produção e cambio, ou seja as próprias bases são favoráveis ao aumento descontinuado e colossal desta divida. Veja: - O governo possui as chamadas necessidades de financiamento “NFSP” (Pagamos a conta operacional...superávit primário – 3,3% do PIB, mas só parte da conta financeira, por tanto possuímos um déficit nominal – 4,2% do PIB), que são grandes ainda que decrescentes e temos também a apreciação do cambio ocasionada pela maior entrada de capital estrangeiro resultante de uma estabilidade macroeconômica recente, grande parte decorrente da atratividade dos títulos públicos federais, causando um aumentando da dívida mobiliária interna, isso por que os juros no Brasil mesmo que no seu menor patamar histórico é alto com relação a outras economias mais solidas, nós somos reféns de uma taxa de juros alta. Levando em conta que a maior parte da dívida está em LFT, título indexado a SELIC, hoje em 8,75% a.a. o governo paga algo próximo de R$ 40 bi a.a. só em juros, com um custo fiscal de aproximadamente R$ 30 bi a.a., supondo que apenas 50% da divida fosse em LFT. Então, o governo paga para manter as reservas internacionais coisa próxima de R$ 30 bi a.a. sendo que a tendência é de crescimento constante da divida, pois além do alto custo para os cofres públicos em manter as reservas no patamar atual, há um impacto importante sobre a taxa de câmbio: o real se mantém valorizado, o país fica aberto à entrada de mais capitais externos e a apreciações adicionais da moeda nacional, aumentando a divida; no entanto isso é bom por um lado, pois conseguimos manter a moeda nacional forte, a estrangeira fraca mantendo nossa capacidade de importação e manutenção da oferta agregada.

Não se tem ao certo uma medida para as reservas internacionais, alguns economistas dizem que o valor ótimo para as reservas é de US$60 bilhões, no entanto é preciso lembrar um pouco do passado. As maiores lições das crises econômicas da década de 90 foi a necessidade de reservas elevadas, ainda mais para países que têm muitas exportações de commodities, como é o caso de Brasil e Rússia. Na verdade não deixa de ser um seguro que o país compra e ele tem um preço. Porém há necessidade na calibragem das reservas e outros ajustes, como na Taxa SELIC, que baliza a remuneração dos papéis emitidos. Neste caso, se há depreciação cambial, é preciso criar as condições para baixar os juros e para isso, é necessária uma política fiscal mais conservadora.

Conclusão:


Há três custos importantes ao se acumular reservas. O primeiro é o aumento da dívida pública pela apreciação cambial, seguido pela despesa do governo ao arcar com a diferença entre os altos juros que paga ao emitir títulos públicos e os papéis americanos (que oferecem remuneração de só 0,25% ao ano e são o principal depósito nas reservas).

O Brasil é um país que usa o regime de câmbio flutuante e, no entanto precisa de reservas um pouco mais altas do que outros que adotem o mesmo sistema, porque depende das exportações de commodities, portanto, fica ao sabor das cotações internacionais.

Por: Rafael Basile